
Deixo-te, filho, ao despedir-me agora, a espada
de prata do meu sonho, armadura de aço do meu
sonho, o corcel flamejante do meu sonho, a busca,
sempre a busca, do meu sonho. Deixo-te as nuvens,
pelo azul viageiras, e em meu jardim abelhas, beija-
flores, cigarras, borboletas e perfumes, os girassóis
fiéis somente à luz, e as árvores - tão poucas! -
que plante para os ninhos e as sombras em carícia,
e a música das brisas, ao luar. Deixo-te, mais,
alguma solidão, para que encontres, face a face a Deus,
e tranquilo, te olhes, nos teus olhos, por não teres
perdido a identidade. Piedade, ainda, eu te deixo, meu
filho, por ti, por mim, e pelos homens todos,
arrastados da fome insaciável de alturas, mas
prisioneiros, sempre, do anseio de pecar.
Antônio Fagundes
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